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sexta-feira, 22 de março de 2013

'Primeira coisa que faria era tomar um banho bem tomado', sonha sertaneja

No sertão de Pernambuco, dona Delmindi raciona água todos os dias. O que a família dela consome de água com todas as tarefas diárias é menos da metade que um banho rápido na cidade de São Paulo.

O Dia Internacional da Água é comemorado nesta sexta-feira (22). O Bom Dia Brasil mostra como vivem brasileiros que dão um enorme valor a ela. Vivem sem água na torneira, sem chuveiro. Até para beber e fazer comida, ela é racionada.
Nossa equipe saiu de São Paulo, parou no Recife e de carro foi até o sertão dePernambuco, na cidade de Santa Cruz da Venerada. Mais de 3,7 mil quilômetros de viagem para conhecer a família de dona Delmindi. Ela sobrevive diariamente com muito menos água do que a maioria usa para tomar um banho.
O Mandacaru não dá sinal nem de flor, nem de chuva. A natureza se espreme, ressecada, emaranhada, adormecida, no sertão de Pernambuco. Dona Delmindi, como uma planta do sertão, aprendeu a armazenar a pouca água que cabe a ela e assim conseguir atravessar estes tempos em que o céu não traz promessa de chuva, a terra não germina novos grãos e os rios viram poeira.
Uma caneca de água é suficiente para a higiene da manhã. Com o pouquinho de água, ela consegue lavar o rosto e até o cabelo. Depois faz o café enquanto o marido e o neto vão tirar o leite das cabras para fazer o cuscuz. Na cisterna, único reservatório de água para beber, a água está no fim, só três palmos lá no fundo. “Só dura, se muito durar, esse mês”, afirma ela.Todos os dias o neto Luzivan tira da cisterna 13 litros de água e leva para a avó na cozinha. Dona Delmindi conta que a água levada precisa dar para cozinhar o arroz e o feijão – do almoço e do jantar. “Para lavar a louça também”, completa.
Para não esvaziar a cisterna, Luzivan vai até um açudezinho, que a cada dia fica menor, pegar mais um balde de água. Uma das noras de dona Delmindi também vai até lá pegar água e leva Aninha, a netinha de dois anos. Aos 39°C no sertão.
Ela conta que a água é para tomar banho e dar banho na filha. A água não é limpa. “Nós até bebemos dela”, diz.
Com a água que pegou no campo, Luzivan vai lavar a calça para ir a escola, o que sobra é para o banho: dois litros e meio. A receita é não fazer muita espuma e espalhar a água pelo corpo devagar, para que a água não se perca sem precisão. “A gente não vai deixar de usar a água para beber, para ficar limpo e cheiroso”, lamenta Dona Delmindi.
Na cozinha, ela prepara o almoço. Já colocou o arroz e o feijão no fogo. Depois do almoço lava a louça. Com cuidado ela dá brilho nas panelas e a água suja que sobra ainda aproveita. Leva até o chiqueiro, para a rquinha que ela tenta engordar.
O que a dona Delmindi gasta de água em um dia, com, banho, almoço, jantar, lavagem de louça, descarga de banheiro, café e água para beber é bem menos do que uma pessoa gasta, em São Paulo, com um único banho de chuveiro.
O que ela consome de água, com todos esses itens - 22 litros - é menos da metade que um banho rápido na cidade de São Paulo - 46 litros. Se o banho durar 15 minutos vai significar seis vezes mais: 140 litros.
Segundo a Organização das Nações Unidas cada pessoa precisa de 110 litros de água por dia para consumo e higiene. Mas, como dona Delmindi, mais de 800 milhões de pessoas no mundo vivem com pouca água. Dona Delmindi sabe que precisa de mais e tem planos para um tempo de fartura.“Primeira coisa que eu ia fazer, meu Deus, é tomar um banho bem tomado, que é para eu ficar bem refrescada. Banho tomado, bem tomado mesmo, a gente bota um xampu. Põe um xampu na cabeça, lava, lava o rosto de sabonete, lava toda, aí fica um banho. Um banho bem tomado nunca mais tomei”, comenta.    
http://g1.globo.com

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